Diário de escrita, seis: inspiração não paga boleto (e nem escreve por você)
Ou por que a rotina ainda é meu melhor editor.
Olá de novo, Terça!
Ainda tentando encontrar o eixo depois da rasteira que me deram por aqui. Por mais que meu aviso tenha bastado, acredito que o peso de ter alguém crescendo os olhos pra tudo que você faz pode se transformar em um bloqueio real — coisa que tenho tentado derrubar toda vez que me proponho a escrever.
É estranho perceber como usaram minhas próprias divulgações pra crescer em cima das minhas ideias. Como fazem questão de posar de inocentes. E pensar nisso tudo prende. Cria âncora. Faz pesar o passo.
Mas quando a gente sabe o que quer, tem que aprender a insistir. Se já encaramos o medo de nos expor, por que dar espaço a quem quer silenciar a gente? Não. Aliás, reconhecer a importância do que estamos fazendo é necessário para nos tirar da linha de mediocridade que tá todo mundo querendo nos empurrar. E complicado é quando somos nós que voltamos pra ela por medo, por pura insegurança ou parâmetro de direção.
Tenho lido muito por aqui sobre procrastinação e autossabotagem. Tudo muito bonitinho, quase poético. Como se o peso da paralisia fosse um charme. Como se escrever fosse sempre esse drama romântico.
Não é.
É luta. É repetição. É não se acomodar no que é seguro. A gente não cresce se só se coloca onde é confortável. Nem física, nem emocionalmente. E eu mesma já fiz isso. A diferença é que eu sabia onde era a saída. Eu preparei uma rota de fuga. Com paciência. Com clareza.
A frustração do começo da newsletter vem daí. Estou, mais uma vez, tendo que me adaptar. Nem era pra eu estar aqui. Mas estou. Porque ouvi umas verdades difíceis demais de engolir. E agora, só me resta seguir. Parar não é opção.
Por hoje, quero aprofundar meus pensamentos um pouco mais sobre procrastinação. Já que ela me persegue, que pelo menos a gente se encare de frente. Sem máscaras. Sem gracinhas. Feito gente grande.
A ruína da leveza…
Já comentei isso antes, mas acho que ainda cabe aqui: quando eu era mais nova, criava com muito mais facilidade.
E quando digo facilidade, quero dizer velocidade mesmo.
Isso foi durante o ensino fundamental e médio. Apesar da rotina pesada — entre escola, tarefas e mil atividades extracurriculares — ainda conseguia ter fôlego para manter publicações ativas em alguns fóruns e não me sentir exausta ou esgotada no fim do dia.
Se eu reler aquele conteúdo hoje, provavelmente vou torcer o nariz. Talvez não ache bom. Mas funcionava. E me fazia bem. Eu não tinha grandes questionamentos além da vontade de criar. Isso pesa. Muito.
Hoje, entendo que, quando comecei a levar a escrita a sério, como algo maior, fui perdendo aquela leveza. A fluidez de quem não tem medo de errar, de quem não tem nada a provar.
Essa geralmente é a raiz das minhas amarras. E das suas? Se não forem as mesmas, o que ainda falta pra que você enxergue o que o medo insiste em esconder? Porque não há como erguer nada firme onde o alicerce é só falácia de gente que não passou pelo seu processo — inspiração por si só infelizmente não sustenta. Enfim…
Levei tempo pra entender onde tinha chegado. Mais tempo ainda pra aceitar o que precisava ser feito.
É difícil se assumir escritor quando a gente passou anos tratando nossos surtos criativos como hobby. Mas chega uma hora em que profissionalizar o processo não é mais vaidade — é defesa. Não que o fantasma da procrastinação desapareça. Porém ele já não encontra tanta brecha pra se fazer convidado.
O plágio, por exemplo, me empurrou de novo pro buraco da autossabotagem. E o pior é ter que gastar tempo me convencendo a fazer o que precisa ser feito, quando eu devia estar criando. Mas se eu não traçar meus próprios limites, quem vai fazer isso por mim? Meus objetivos são meus. Manter o Substack atualizado também é comigo. Eu que pesquiso, estudo o mercado editorial, tento formar comunidade, toco os projetos, crio. Tudo cai no meu colo.
Sinceramente? Eu não estaria aqui se não tivesse aprendido a importância de criar uma rotina que me respeite. Que funcione dentro da minha realidade.
Às vezes, parece um trabalho ingrato. Cansativo. Solitário. Mas é isso que eu escolhi, não é?
Claro que eu queria um cenário ideal. Claro que queria o mundo girando a favor. Mas não gira. E é por isso mesmo que eu insisto.
Porque lá na frente — se as coisas caminharem como espero que caminhem — pelo menos vou ter esse alívio. Esse espaço que eu conquistei. E as preocupações de lá serão outras.
Um recado pra quem é mais novo e ainda se encanta com o papo da inspiração: escrever é 95% esforço, suor, trabalho braçal.
Se é isso que você quer, se force a continuar mesmo quando nada sai. Encontre sua voz no vazio. Termine. Poste. Repita. Comemore as vitórias pequenas.
E, acima de tudo, não se compare. Nem com quem começou como você, nem com quem teve o caminho todo pavimentado pra chegar onde quis.
Bloqueio não é carreira, nem faz a roda girar…
O que anda me irritando é ver tanta gente repetindo, no automático, dores que nem fazem sentido em certas realidades.
Dá até pra chamar de esgotamento de pauta — mas prefiro não ser tão dura. No fundo, só espero que essa galera que vive dizendo que não consegue vencer a procrastinação esteja só dramatizando um pouco a própria preguiça. Bacana os trezentos e poucos likes que conseguiu falando sobre isso mas, conta aqui pra tia, converteu no quê?
Se o bloqueio vier de algo sério, não hesite em procurar ajuda profissional. E, se isso ainda não for uma opção, por qualquer motivo, pense em adaptar sua rotina. Faça com que o tempo que você tem — por menor que seja — funcione a seu favor, para que tenha um momento produtivo, ainda que breve.
Autossabotagens acontecem. É natural. Contudo, se agarrar a elas como uma desculpa eterna para a não progressão não ajuda ninguém. Se é importante pra você, encontre um jeito de fazer caber na rotina — nem que seja no intervalo entre um caos e outro.
Alerta de spolier! Projeto S.
Mais uma vez vou trazer um trecho pra cá. Fiz algo parecido no primeiro diário que postei aqui. Novamente é algo diferente do que já foi postado por mim.
Além de assumir características relacionadas ao Romance Adulto. O tom da narração é outro. A personagem mostra sua perspectiva através da maneira que aprendeu a reconhecer e lidar com o mundo ao seu redor até essa fase.
[…] — E temos um novo recorde! — falei alto por cima do ombro dele.
Ele limpou o canto da boca antes de responder.
— Onde retiro meu prêmio então?
— Ei! Sou só a porta voz da notícia não me cobre. — brinquei.
— Uma pena, sabe? Só uma conversa ou um pouquinho de atenção fora desse balcão já seria bem legal.
— É?
— Juro que sim.
Droga…
Ele podia ser só um pouco mais feinho pra facilitar, mas não…
— De que turma você é? — era justo, se ia dar papo pra maluco pelo menos alguma informação básica eu tinha que ter.
Ele fez que não com a cabeça, mostrando a pulseira de identificação para convidados. Depois disso senti o rosto dele se aproximando demais de mim. O hálito quente, alcóolico e adocicado se misturando a minha respiração enquanto tentava me fazer entender.
— Aquele cara ali é o xxxxxxxx. — disse apontando pra um rapaz alto de cabelo cheio e cacheado, cercado por algumas outras pessoas — Ele meio que traiu todo mundo e escapou da Preparatória na primeira oportunidade que teve, enfim... O que quero dizer é que aquele é o novato que me colocou aqui dentro.
Antes que eu dissesse qualquer coisa, fomos interrompidos por uma aluna do segundo semestre, envolvida com os preparativos da festa.
— Com licença… — pediu se metendo entre a gente — Não quero parecer chata nem nada do tipo, mas se vocês dois quiserem fazer isso a senhorita tem que ralar desse balcão agora mesmo.
A loira gesticulou para o chão sem oferecer mais opções. Ou seja, chata. Quase simultaneamente, as mãos dele apareceram como uma alternativa de apoio, e logo senti o corpo de outra menina roçando no meu, ansiosa para assumir meu lugar.
— Obrigada, Você… Eu acho. — agradeci enquanto escorregava pra fora do balcão.
— xxxx. — se apresentou.
— xxxxxxx.
— Capítulo 01, versão não finalizada de S. por America Paiva. Atenção: nenhuma forma de replicação desse trecho é permitida fora dessa plataforma ou por qualquer outro autor ou autora, ou ainda produtores de conteúdo, em quaisquer termos.
Eu gosto bastante de escrever em primeira pessoa, justamente porque parece haver uma fluidez melhor após todo o investimento que faço no momento da construção de personagens. Meio que desligo o cérebro e deixo eles falarem — para depois eu vir com a agulha e a linha da história, e deixar tudo bem costuradinho.
Esse é um mini romance extra que tenho associado a A.S.M.S (que também já falei aqui) onde o pov é de outra personagem que não os principais de A.S.M.S.
Pra finalizar a conversa…
Queria dizer que estou super tranquila com o andar da carruagem mas não consigo, de verdade. Ás vezes fico super preocupada com questões que mal estão perto de serem levadas em consideração, e em outras ocasiões tenho um pico de bom senso onde todos os meus conselhos parecem — de fato — fazerem sentido pra mim.
Sendo muito aberta aqui: estou trabalhando à base da raiva desde o penúltimo final de semana.
E reitero, com todas as letras, que, caso passe por algo assim novamente, não vai ter aviso certo. Sou tranquila demais — até atingirem meu trabalho e duvidarem do que posso (ou não) movimentar quando mexem no meu.
Por conta disso, como falei nesse Diário, tenho perdido um tempo precioso de produção. Parte da minha paz foi retirada junto com a apropriação das minhas ideias, que foram maquiadas, por um tipinho que tem tempo de sobra pra ficar garimpando suor alheio por aqui. Enfim…
Essa newsletter vai chegar pra vocês no dia 24/06, então já mudando um pouquinho o tom disso aqui: feliz São João! Não sei como acontecem as festividades juninas do lado de onde vocês estão, mas, por aqui, tem muita energia correndo solta que faz a gente esquecer um pouquinho dos problemas cotidianos e se permitir, mesmo em silêncio e quietinha em casa, respirar esse tanto de cultura que forma a gente.
Se você não entende muito bem sobre o que estou falando convido vocês a assistirem esse vídeo aqui que mostra um pouquinho da festa e esse outro que explora um pouquinho mais da cidade.
Quanto as novidades, posso adiantar pra vocês o The freak pop show. Já estou desenvolvendo as newsletters e elas tão um sabor de interessantes, juro! As pesquisas estão ótimas e super bem desenhadinhas já que é algo que eu tinha vontade de falar já faz tempo. Sério. Se inscrevam lá para receber as atualizações também caso interessar.
Agradeço se chegou até aqui.
Até a próxima! ✨
Espero mesmo que você não desista por nada e nem ninguém! ❣️
Eu amei esse trechoooo
Isso aí! Força e rotina e foco 🧘♀️ 💪