Diário de escrita, um: confissões de uma autora independente em crise
Notas de bordo de uma mente exausta, porém depende.
Queridos leitores, esse é um teste. Bom… Mais um.
Para quem acompanha meus posts de sexta, talvez entenda a razão. Para quem não, explico um pouco minhas dúvidas nesta Newsletter.
Então, pensei e pensei, daí pensei mais um pouco e me surgiu essa ideia.
Estou readequando algumas metas e, como forma de auto incentivo, resolvi explana-las pra vocês insiram uma risada de nervoso aqui. Sinceramente, não sei se funcionará, então peço paciência.
Embora a perfeição me poupasse tempo, busco progredir sem apostar todas as minhas fichas nisso. Ao compartilhar esse diário, espero encontrar motivação extra quando a energia faltar.
Nesse contexto também estou me colocando como ouvinte.
Escrever é um ato solitário, principalmente se você não faz parte de um grupo de pessoas que têm esse desafio em comum. E boa parte dos que estão aqui comigo trilham esse caminho assim como eu.
Gostaria de falar especialmente para essas pessoas agora: além de admirar a coragem de cada um de vocês — por insistirem em um sonho — nossas experiências se assemelham, vocês não estão sozinhos. Estamos ligados por palavras que transbordam pelos poros, que não se contentam com a sombra, e nos encontramos quando deixamos esse fluxo convergir.
Reitero ainda que os comentários sempre estarão abertos para uma possível troca caso queiram iniciar uma conversa.
Enfim… Vamos ao tópico.
Abençoado seja o Notion! — até segunda ordem…
Lembro de ter comentado sobre projetos parados. Bom… Não é bem assim.
Meus projetos são bem distintos entre si e isso gera uma confusão gigantesca, principalmente quando um quer se sobrepor ao outro. Eu sei… Parece papinho, uma desculpa das mais furadas para justificar procrastinação, mas acontece. É como se minha mente só quisesse funcionar na contramão do meu planejamento.
Me permitam esclarecer melhor.
Estou me dividindo em quatro desenvolvimentos diferentes: uma alta fantasia, dois romances adultos (sendo um deles um conto derivado da história principal) e um romance contemporâneo. E, como eu estava dizendo, às vezes um quer roubar o protagonismo do outro em dias que não convém.
Lidar com isso é uma batalha. Não tem como descrever melhor o sentimento que me dá quando não consigo administrar o ego dos meus personagens.
Antes eu brigava com o Notion. Olhava pra aquele Planner Semanal e entrava numa pilha gigantesca.
Hoje em dia por mais que ache ruim, aprendi a ceder fazendo combinados comigo mesma, sendo sincera em cada interação com aquela tela preta.
Entendi que, comigo, insistir não funciona. “Forçar” me deixa tensa como se estivesse pisando em ovos, o que corrobora para os famosos bloqueios criativos. Eu posso ter uma escaleta pronta, perfis montados, cenas inteiras desenvolvidas, mas o miolo não cozinha.
Então, me adequo.
Olho bem para a TDL (to do list) do dia e vejo o que dá para adaptar de maneira que, a longo prazo, eu não me sinta sufocada. Contudo, às vezes não tem como fazer isso e aí tenho que assumir a bronca.
Em dias assim, o tempo parece zombar do esforço que tenho que dedicar para desenvolver os parágrafos. Mas parar? Não… Essa, definitivamente, não é uma opção válida.
Quando eu era mais nova costumava pensar sobre a vida de uma forma diferente.
Dava pra romantizar a sobrecarga, ou até mesmo aplicá-la de um jeito que o fôlego não me faltava no dia seguinte… E a vida seguia.
Quero dizer, o mundo parecia girar no meu ritmo, por isso, adiar as coisas não pesava tanto. Meus vinte e tantos atuais desaprovam essa visão veementemente. Minha rotina não se moldou à minha necessidade, o cenário social virou do avesso e só se embola cada vez mais, e a energia parece ser parcelada — como naqueles joguinhos em que você tem que calcular bem os movimentos para passar de fase, se não… Só no outro dia.
É disso que estou falando quando falo “sobre sinceridade comigo mesma”. Não ser tão inflexível a ponto de me prejudicar todos os dias, me deixando insatisfeita ou entristecida com a minha produção. Mas também, não ser tão condescendente a ponto de me perder no trabalho que eu mesma assumi para mim.
Quando a vida real bate à porta…
Se esse é seu primeiro contanto com uma Newsletter minha permita-me uma curta apresentação:
Infelizmente, não vivo da escrita. Sou jornalista, trabalho diariamente na produção de matérias especiais em uma emissora de televisão. Moro sozinha em uma capital onde não nasci, longe da minha família. Pago contas, sustento poucos hobbies e tenho um gasto considerável com questões de saúde. Por esse motivo, entender meus limites é uma tarefa constante.
O planejamento é apenas uma alternativa. Um caminho.
Manter casualidades fora da equação é uma forma de autoengano, a qual não pratico mais. E você, querido leitor, deveria levar isso em consideração também. Juro que melhora bastante essa cobrança que nos cerca e atormenta, quando priorizamos o aproveitamento ao equilíbrio. E o que quero dizer com isso?
Metas são importantes mas não são tudo.
Depois de me julgar horrores no último mês, percebi que não dá para atingir minhas próprias expectativas, porque elas sempre vão esperar que meus passos vão além da exaustão. E gente, a vida não funciona no limite! nota para mim mesma também.
Na tentativa de dedicar cada segundo livre a escrita acabei travando, atropelando tudo e confundindo as ideias.
E pior que não reconheci de primeira. Antes de pensar, me culpei. Desacreditei nas minhas histórias e pensei, mais uma vez, em parar, em procurar alguma outra coisa... Qualquer outra coisa que me fizesse voltar ao start incial. Sabe aquele estalo? Que te faz até congelar pra evitar perder a ideia em movimentos bruscos? Então.
Por isso me dar um tempo foi essencial, para perceber tudo isso que comentei aqui. Mas, por hora, chega de reflexões…
Alerta de spolier! Projeto A.
Queria dedicar este espacinho para trazer a vocês alguns trechos e detalhes das minhas histórias. Sei que tenho falado muito sobre elas, mas nunca as trouxe, exatamente, para a Newsletter. Hoje, trago um trecho inicial do “Projeto A.”, um projeto que venho desenvolvendo desde que iniciei as publicações aqui.
A ideia surgiu como um conto e acabou assumindo a estrutura de uma história capitular. O romance é narrado em primeira pessoa e apresenta uma linguagem fortemente introspectiva, que não só revela muito da personalidade do personagem principal, como também da sua perspectiva de mundo.
[…] O reflexo no espelho oval incrustado na porta do armário de madeira da sacristia me examinava com uma clareza ímpar, expunha sem pudor a fraqueza da minha figura, por trás dos traços angulares e sisudos que herdei de parte materna. O branco dos olhos parecia mais avermelhado no vidro bem polido do que de costume. Ardiam, talvez pelo esforço de conter lágrimas carregadas de culpa, enquanto eu me ocupava em desejar que quem quer que ainda estivesse me esperando dentro da Capela fosse embora. Os ombros murchos em volta do corpo esguio e encolhido só tornavam a cena ainda mais patética.
— Capítulo 01, versão não finalizada de A. por America Paiva. Atenção: nenhuma forma de replicação desse trecho é permitida fora dessa plataforma ou por qualquer outro autor ou autora, ou ainda produtores de conteúdo, em quaisquer termos.
Nesse trecho, temos a primeira descrição de um dos personagens mais complexos que eu tive o prazer de escrever. Fazer esse tipo de coisa sem parecer piegas é extremamente complicado. No caso específico desse personagem, sua prostração física inicial é o ponto de partida desta história.
Enfim, mal posso esperar para compartilhá-la com vocês.
Pra finalizar a conversa…
Estou muito feliz em ter conseguido concluir essa Newsletter!
Acreditem quando digo que é muito difícil para mim falar sobre essas coisas, porque elas são muito pessoais e estão em um lugar muito precioso na minha mente e no meu coração — não tenho como explicar de outra forma.
Mas esse é só o começo. Pretendo ser mais específica em outras oportunidades. Gostaria de falar sobre métodos de organização, criação de personagens, de mundo, de referências mais voltadas ao entendimento do mercado editorial, além de dividir as dores e os sabores de alguém que está tentando fazer “o barro” acontecer.
Se achar interessante comentar e acrescentar mais alguma coisa, ou se quiser só desabafar mesmo, fique à vontade. Estou lutando para tornar essa Newsletter democrática a todos que permitem que ela faça parte da rotina, e seus comentários são reflexo dessa minha prerrogativa dando certo. Além do mais, adoro falar com vocês.
No mais, espero que tenham gostado da postagem de hoje.
Agradeço se chegou até aqui.
Até a próxima! ✨
É inegável que os corações de escritores se interligam de alguma forma. Sonhei que escrevia um Diário de Escrita e iniciei o meu hoje e aí aparece você, que também tem o seu por aqui. Vou amar acompanhar sua jornada também e que possamos de alguma nos ajudar neste processo! ❣️
autoras independentes em crise unidas 💘💘💘💘